A história como pintura: da dimensão pictórica à textual na historiografia francesa da primeira metade do século XlX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v12i30.1465

Palavras-chave:

Historiografia francesa, Historiografia antiga, História moderna

Resumo

A apresentação de uma “história vívida”, capaz de “colocar os objetos narrados sob os olhos do leitor” ou a elaboração de uma “pintura da história” são procedimentos caros à historiografia francesa da primeira metade do século XIX. No entanto, esse investimento no caráter imagético da narrativa também pode ser encontrado nas reflexões clássicas e antigas sobre a escrita da história. Nesse artigo, o objetivo é discorrer sobre as possíveis reapropriações na historiografia francesa do período, de práticas e topoi antigos, como se verifica nas noções do ut pictura historia, da enargeia e da sunopsis. Para isso, recorre-se tanto a obras de referência, dicionários e enciclopédias, quanto a textos de autores como Prosper de Barante, René de Chateaubriand e Augustin Thierry. Como hipótese, sugere-se que o moderno dispositivo narrativo da cor local, que se desenvolve entre os séculos XVIII e XIX, incorpora e expressa as antigas demandas visuais da narrativa, no momento da reformulação conceitual que caracteriza a época moderna. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eduardo Wright Cardoso, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2010. Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2012. Doutor em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 2016. Atualmente é professor de Teoria da História na mesma instituição.

Referências

ALCIDES, Sérgio. Estes penhascos: Cláudio Manuel da Costa e a paisagem das Minas, 1753-1773. São Paulo: Hucitec, 2003.

BARANTE, M. de. Histoire des ducs de Bourgogne de la Maison de Valois, 1364-1477. Paris: L’Advocat Libraire, 4 ed., 1826.

BOULAY, Bérenger. Effets de présence et effets de vérité dans l’historiographie. Littérature, n. 159, p. 26-38, 2010. DOI: https://doi.org/10.3917/litt.159.0026

CALAME, Claude. Entre vraisemblable, nécessité et poétique de la vue: l’historiographie grecque classique. Texto! Textes & Cultures, v. XV, n. 3, p. 1-20, 2010.

CEZAR, Temístocles. Lição sobre a escrita da história. Historiografia e nação no Brasil do século XIX. Diálogos, Maringá, v. 8, n. 1, p. 11-29, 2004.

CHATEAUBRIAND, F. René de. Études historiques. In: CHATEAUBRIAND, F. René de. Oeuvres complétes. Paris: Pourrat Fréres, Éditeurs, t. 4, 1836.

Dictionnaire de l’Académie Française. Paris: J. J. Smits, t. 2, 1798; t. 2, 1835; t. 1, 1878; t. 2, 1932-5.

Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, etc., eds. D. Diderot; J. d’Alembert. University of Chicago: ARTFL Encyclopédie Project (2013 Edition), v. 3, 4, 5, 8.

GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

GUMBRECHT, Hans U. Modernização dos sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998.

HANSEN, João Adolfo. Ut Pictura Poesis e Verossimilhança na Doutrina do Conceito no Século XVII. In: MEGALE, Heitor (org.). Para Segismundo Spina: língua, filologia e literatura. São Paulo: EDUSP; Iluminuras, 1995, p. 201-214.

HANSEN, João Adolfo. Categorias epidíticas da ekphrasis. Limiar, v. 1, n. 1, p. 1-22, 2013. DOI: https://doi.org/10.34024/limiar.2013.v1.9287

HARTOG, François. Evidência da história: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006.

KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2014.

LAROUSSE, Pierre. Grand Dictionnaire Universel du XIXe siècle. Paris: Administration du Grand Dictionnaire Universel, tomo V, 1869.

LARUE, Anne. De l’Ut pictura poesis à la fusion romantique des arts. La Synthèse des arts, p. 1-18, 1998.

LESSING, Gotthold E. Laocoonte ou sobre as fronteiras da pintura e da poesia, com esclarecimentos ocasionais sobre diferentes pontos da história da arte antiga. São Paulo: Iluminuras, 1998.

LIDDELL, Henry; SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon, revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones. Oxford: Clarendon Press, 1940.

LONGINUS; (ARISTOTLE; DEMETRIUS). Poetics; On the sublime; On style. Cambridge; London: Harvard University Press, 1995.

LUCIANO. Como se deve escrever a história. Tradução de Jacyntho Brandão. Belo Horizonte: Tessitura, 2009.

MARKIEWICZ, Henryk; GABARA, Uliana. Ut pictura poesis... A history of the Topos and the Problem. New Literary History, v. 18, n. 3, p. 535-558, 1987. DOI: https://doi.org/10.2307/469057

MAURER, Kathrin. Visualizing the Past: The Power of the Image in German Historicism. Berlin; Boston: De Gruyter, 2013. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110282931

PAYEN, Pascal. A constituição da história como ciência no século XIX e seus modelos antigos: fim de uma ilusão ou futuro de uma herança? História da historiografia, v. 4, n. 6, p. 103-122, 2011. DOI 10.15848/hh.v0i6.250. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/250. Acesso em: 3 jul. 2019. DOI: https://doi.org/10.15848/hh.v0i6.250

PEREIRA, Mateus; ARAUJO, Valdei. Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI. Mariana: Editora SBTHH, 2018.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alan François. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.

SAMUELS, Maurice. The spectacular Past: Popular History and the Novel in Nineteenth-Century France. Ithaca and London: Cornell University Press, 2004. DOI: https://doi.org/10.7591/9781501729836

SCHEPENS, Guido. L’autopsie comme problème méthodologique de l’historiographie. In: SCHEPENS, Guido. L’Autopsie dans la méthode des historiens grecs du Vème siècle avant J.-C. Brussels: Koninklijke Academie, 1980. p. 1-32.

SINKEVISQUE, Eduardo. Breve relação sobre o Tratado Político (1715) de Sebastião da Rocha Pita [...]. Estudos Portugueses e Africanos, n. 36, 2º sem., s/p, 2000.

SINKEVISQUE, Eduardo. Doutrina seiscentista da arte histórica: discurso e pintura das guerras holandesas (1624-1654). 2005. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e Vernáculas, USP, São Paulo, 2005.

THIERRY, Augustin. Dix ans d’études historiques. Paris: J. Tessier Libraire, 1836.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso: livro I. Tradução de Anna Lia Prado. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.

VAPEREAU, Gustave. Dictionnaire Universel des Littératures. Paris: Lib. Hachette, 1876.

VOLTAIRE. O pirronismo da história. Tradução: Márcia Valéria de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WEBB, Ruth. Ekphrasis, Imagination and Persuasion in Ancient Rhetorical Theory and Practice. Surrey, England: Ashgate, 2009.

ZANGARA, Adriana. Voir l’histoire. Théories anciennces du récit historique: IIe siècle avant J.-C. – IIe siècle aprés J.-C. Paris: J. Vrin, 2007.

Downloads

Publicado

2019-08-27

Como Citar

CARDOSO, E. W. A história como pintura: da dimensão pictórica à textual na historiografia francesa da primeira metade do século XlX. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 12, n. 30, 2019. DOI: 10.15848/hh.v12i30.1465. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/1465. Acesso em: 9 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigo