As novas fisionomias do romance histórico
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v13i32.1530Palavras-chave:
Romance histórico, Ficção, HistoricidadeResumo
O artigo discute a questão da referencialidade no romance histórico, a partir da comparação entre sua forma clássica e suas formas contemporâneas. A primeira seção trata da “composição mista de história e invenção” que, segundo Alessandro Manzoni, foi o principal traço do romance histórico realista. Na seção seguinte, discute-se como o romance meta-histórico da segunda metade do século XX – casos de Disgrace (J. M. Coetzee) e El entenado (Juan José Saer), eclipsa o problema da referencialidade, com a pressuposição de que o romance histórico deve operar nos termos dos seus próprios procedimentos, e não nos da história. Nas seções seguintes, o foco se volta para a guinada referencial que marca boa parte das narrativas literárias do século XXI. Três romances são discutidos a partir dessa chave de leitura: El material humano, de Rodrigo Rey Rosa; K. Relato de uma busca, de Bernardo Kucinski; e Jan Karski, de Yannick Haenel. O que se argumenta é que a inversão de polos – da não referencialidade à tendência referencial, é uma faceta inesperada da elasticidade do conceito e da prática da ficção, que, ao negar a si mesma, termina enriquecendo o seu próprio jogo.
Downloads
Referências
ABBATE, Florencia. El espesor del presente. Tiempo e historia en las novelas de Juan José Saer. Villa María: Eduvim, 2014.
ANHEIM, Étienne; LILTI, Antoine. Savoirs de la littérature. Annales HSS, v. 65, n. 2, 2010, p. 253-260. Available at: https://doi.org/10.1017/S0395264900038518. Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.1017/S0395264900038518
ANKERSMIT, Frank. Truth in History and Literature. Narrative, v. 18, n. 1, 2010, p. 29-50. Available at: https://www.jstor.org/stable/25609383. Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.1353/nar.0.0039
ATTRIDGE, Derek. J. M. Coetzee and the Ethics of Reading. Chicago and London: The University of Chicago Press, 2004.
ATTWELL, David. J. M. Coetzee and the Life of Writing. New York and London: Viking, 2015.
AZEVEDO, Luciene. Saindo da ficção: narrativas não literárias. Caracol, n. 17, 2019, p. 329-345. Available at: https://doi.org/10.11606/issn.2317-9651.v0i17p329-345. Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2317-9651.v0i17p329-345
BINET, Laurent. Le merveilleux réel. Le débat, 165, mai-août, 2011, p. 80-85. DOI: https://doi.org/10.3917/deba.165.0080
BINET, Laurent. HHhH. Trans. Sam Taylor. New York: Picador, 2013.
BOUCHERON, Patrick. “Toute littérature est assaut contre la frontière”. Note sur les embarrass historiens d’une reentrée littéraire. Annales HSS, v. 65, n. 2, 2010, p. 441-467. Available at: https://www.jstor.org/stable/40929992. Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.1017/S0395264900038580
BOUJU, Emmanuel. La transcription de l’histoire. Essai sur le roman européen de la fin du XXe siècle. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2006.
CAPOTE, Truman. In Cold Blood. New York: Random House, 1966.
CERCAS, Javier. El punto ciego. Buenos Aires: Random House, 2016.
CHARBEL, Felipe. A ficção histórica e as transformações do romance contemporâneo. In: CHARBEL, Felipe; SILVA MELLO, Luiza; GUSMÃO, Henrique (org.). As formas do romance. Estudos sobre a historicidade da literatura. Rio de Janeiro: Ponteio, 2016.
COETZEE, J. M. The Novel Today. Upstream, v. 6, n. 1, 1988.
COETZEE, J. M. Disgrace. London: Secker & Warburg, 1999.
COHN, Dorrit. The Distinction of Fiction. Baltimore and London: The John Hopkins University Press, 1999.
COSTA LIMA, Luiz. O controle do imaginário. Rio de Janeiro: Forense, 1989.
DOLEZEL, Lubomir. Possible Worlds of Fiction and History. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2010.
ELIAS, A. J. Sublime desire: History and Post-1960’s Fiction. Baltimore: John Hopkins University Press, 2001.
GALLAGHER, Catherine. The Rise of Fictionality. In: MORETTI, Franco (org.). The Novel. Volume I, History, Geography and Culture. Princeton and Oxford: Princeton University Press, 2006.
GLYNN, Ruth. Contesting the Monument. The Anti-Illusionist Italian Historical Novel. Leeds: Northern University Press, 2005.
GOBBI, Maria Valéria Zamboni. A ficcionalização da História. Mito e paródia na narrativa portuguesa contemporânea. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
GOLSAN, Richard. L’Affaire Karski: Fiction, History, Memory Unreconciled. L’Esprit Créateur, v. 50, n. 4, 2010, p. 81-96. Available at: https://www.jstor.org/stable/26289680. Accessed on: 29 jun. 2019.
HAENEL, Yannick. Jan Karski. Paris: Gallimard, 2009.
HAENEL, Yannick. The Messenger. Trans. Ian Monk. Berkeley: Counterpoint, 2013.
HEISE, Ursula K. Chronoschisms: Time, Narrative, and Postmodernism. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
HELLER, Agnes. The Contemporary Historical Novel. Thesis Eleven, v. 106, n. 1, 2011, p. 88-97. Available at: https://doi.org/10.1177/0725513611407448. Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.1177/0725513611407448
HUTCHEON, Linda. A poética do pós-modernismo. Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. Trad. Johannes Kretschmer. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996.
JABLONKA, Ivan. La historia es una literatura contemporánea. Manifiesto por las ciencias sociales. Trad. Horacio Pons. Mexico: Fondo de Cultura Económica, 2014.
JAMESON, Fredric. Archaeologies of the Future. The Desire Called Utopia and Other Science Fictions. London and New York: Verso, 2005.
JAMESON, Fredric. The Antinomies of Realism. London and New York: Verso, 2013.
KUCINSKI, Bernardo. K. Relato de uma busca. São Paulo: Cosac Naif, 2014.
LANZMANN, Claude. Jan Karski de Yannick Haenel: un faux roman. Les temps modernes, nº 657, janvier-mars, 2010. DOI: https://doi.org/10.3917/ltm.657.0001
LADDAGA, Reinaldo. Estética de laboratório. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico. De Rousseau à Internet. Trad. Jovita Maria Noronha e Maria Inês Guedes. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
LUDMER, Josefina. Literaturas pós-autônomas. Trad. Flávia Cera. Sopro, n. 20, jan. 2010.
LUKÁCS, Györg. O romance histórico. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011.
MANZONI, Alessandro. Del romanzo e, in genere, de’ componimenti misti di storia e d’invenzione. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2016.
MCHALE, Brian. Post-modernist Fiction. London and New York: Routledge, 1987.
PLIMPTON, George. The Story Behind a Nonfiction Novel. The New York Times, 16 jan. 1966.
REY ROSA, Rodrigo. El material humano. Barcelona: Anagrama, 2009.
REY ROSA, Rodrigo. Human Matter. Trans. Eduardo Aparicio. Austin: University of Texas Press, 2011.
ROTH, Philip. Writing American Fiction. In: ROTH, Philip. Reading Myself and Others. London: The Random House, 2007.
SAER, Juan José. O enteado. Trad. José Feres Sabino. São Paulo: Iluminuras, 2002.
SANDERS, Mark. Complicities. The Intellectual and Apartheid. Durham and London: Duke University Press, 2002. DOI: https://doi.org/10.1215/9780822384229
SCHAEFFER, Jean-Marie. Why Fiction? Lincoln and London: University of Nebraska Press, 2010.
SHIELDS, David. Reality Hunger. A Manifesto. New York: Alfred A. Knopf, 2010.
SUZUKI JR., Matinas. Nem tudo é verdade, apesar de verdadeiro. In: SUZUKI JR., Matinas. A sangue frio. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
TURIN, Rodrigo. A polifonia do tempo: ficção, trauma e aceleração no Brasil contemporâneo. ArtCultura, v. 19, n. 35, 2017, p. 55-70. Available at https://doi.org/10.14393/ArtC-V19n35-2017-2-05 . Accessed on: 29 jun. 2019. DOI: https://doi.org/10.14393/ArtC-V19n35-2017-2-05
WAUGH, Patricia. Metafiction. New York and London: Methuen, 1984.
WHITE, Hayden. War and Peace. Against Historical Realism. In: WANG, Q. Edward e FILLAFER, Franz (org.). The Many Faces of Clio. Cross-cultural Approaches to Historiography. New York and Oxford: Berghahn Books, 2007.
WHITE, Hayden. The Practical Past. Evanston: Northwestern University Press, 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
O envio de manuscrito para a revista garante aos seus autores a manutenção dos direitos autorais sobre o mesmo e autoria que a revista realize a primeira publicação do texto. Os dados, conceitos e opiniões apresentados nos trabalhos, bem como a exatidão das referências documentais e bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores.
Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.