Machado de Assis e a experiência da historicidade
sobre historiadores assombrados e a presença fantasmagórica do passado em Casa Velha
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v14i36.1700Palavras-chave:
Historicidade, Clima Histórico, PresençaResumo
Neste artigo, exploro como Machado de Assis (1839-1908) articula, em Casa Velha (1885-1886), percepções relativas à experiência da historicidade e da escrita da história que tensionavam com as perspectivas vigentes na cultura de história no Brasil do século XIX. A intenção é abordar como a produção literária do escritor possibilita o diálogo com as reflexões contemporâneas nos campos da teoria e da história da historiografia que apontam para a (im)possibilidade de o passado passar, evidenciando a sua presença/ausência espectral. Nesse sentido, procuro explorar como se, por um lado, em Casa Velha, as figurações da historicidade e da escrita historiográfica pressupõem a crise do conceito moderno de história; por outro, apontam para a impossibilidade de uma ruptura completa, sendo a sua própria presença a condição para a imaginação literária. Por fim, reflito como o assombramento do passado em Casa Velha se conecta a outros escritos do autor e é análogo ao assombramento provocado por Machado na cultura de história brasileira contemporânea.
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