Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre
das competições literárias ao anátema histórico-ensaístico
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v14i35.1781Palavras-chave:
Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, História IntelectualResumo
Propomos que a segunda edição de Raízes do Brasil (1936), publicada em 1948, representa o epítome da guinada negativa de Sérgio Buarque de Holanda quanto ao seu companheiro de geração Gilberto Freyre. As modificações incisivas nessa edição do clássico livro não podem ser, em parte, compreendidas sem que se leve em conta o constrangimento da influência exercida por Casa-grande & Senzala (1933), bem como os mecanismos de consagração apropriados por Holanda no âmbito das instituições, a partir de finais da década de 1940. Para tanto, além das duas primeiras edições de Raízes do Brasil e do clássico de Freyre, lançaremos mão de alguns escritos anteriores e posteriores a esse marco, 1948, a fim de apresentar a historicidade dessa interlocução, que vai da competição literária à disputa pela interpretação do Brasil; perpassa por questões epistemológicas, dentre essas a forma ensaio; e toca as desavenças constituintes das batalhas simbólicas no campo intelectual, a partir das quais anatematiza-se o nome do pernambucano do ensaio revisado.
Downloads
Referências
ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: ADORNO, Theodor. Notas de literatura I. Tradução de Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003. p. 15-45.
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Guerra e paz. Casa-grande & senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2005.
BANDEIRA, Manuel. Casa-grande & Senzala [1965]. In: FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal [1933]. São Paulo: Global, 2003. p. 12-13.
BASTOS, Elide Rugai. Raízes do Brasil – Sobrados e Mucambos: um diálogo. Perspectivas, São Paulo. n. 28, p. 19-36, 2005.
BOURDIEU, Pierre. Campo intelectual e projeto criador. In: POUILLON, Jean et al. Problemas do estruturalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. p. 105-145.
BOURDIEU, Pierre. La production de la croyance: contribution à une économie des biens symboliques. Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, v. 13, p. 3-43, 1977.
CARVALHO, Raphael Guilherme de. Sérgio Buarque de Holanda, do mesmo ao outro: escrita de si e memória (1969-1986). 2017. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017.
COSTA LIMA, Luiz. Limites da Voz (Montaigne, Schlegel, Kafka) 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.
DIAS, Maria Odila L. da Silva. Estilo e método na obra de Sérgio Buarque de Holanda. In: NOGUEIRA, Arlinda Rocha et al. (org.). Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura; Arquivo do Estado; IEB, 1988. p. 72-79.
DIAS, Maria Odila L. da Silva. Sérgio Buarque de Holanda, historiador. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Ática, 1985. p. 7-64. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, 51).
DIMAS, Antonio. Barco de proa dupla. Revista USP, São Paulo, n. 54, p. 112-126, jun.-ago. 2002.
FAORO, Raymundo. Mestre Sérgio. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 jun. 2002. Caderno Mais! Disponível em: https://bityli.com/gs4Si. Acesso em: 28 dez. 2020.
FELDMAN, Luiz. Organizar a Desordem: Raízes do Brasil em 1936. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 58, n. 4, p. 1131-1168, 2015.
FELDMAN, Luiz. Um clássico por amadurecimento: Raízes do Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, n. 82, p. 119-140, jun. 2013.
FRANZINI, Fábio. À sombra das palmeiras: A coleção Documentos Brasileiros e as transformações da historiografia nacional (1936-1959). 2006. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
FRANZINI, Fábio; LOURENÇO, Elaine. Quando historiadores foram à escola: a História do Brasil de Octavio Tarquínio de Sousa e Sérgio Buarque de Holanda (1944) e os ecos da nova historiografia brasileira. Revista Expedições, Morrinhos, v. 8, n. 1, jan-.abr. 2017.
FREYRE, Gilberto. Acerca de jardins. Diário de Pernambuco, Recife, 3 maio, 1925. Disponível em: https://bit.ly/3kvCw3T. Acesso em: 28 dez. 2020.
FREYRE, Gilberto. Apresentação. In: HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1936. p. V-IX.
FREYRE, Gilberto. Artigos de Jornal. Recife: Edições Mozart, 1935.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. Formação da familia brasileira sob o regimen de economia patriarchal. Rio de Janeiro: Maia & Schimidt Ltda., 1933. Consultado na Coleção Especial Sérgio Buarque de Holanda – Biblioteca Central Cesar Lattes, Universidade Estadual de Campinas.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal [1933]. São Paulo: Círculo do Livro, 1980.
FREYRE, Gilberto. James Joyce: O creador de um rhythmo novo para o rómance. Diário de Pernambuco. Recife, 11 dez. 1924. Disponível em: https://bit.ly/37HSzrQ. Acesso em: 28 dez. 2020.
FREYRE, Gilberto. Nordeste. Aspectos da influencia da canna sobre a vida e a paizagem do nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1937. [Consultado na Coleção Especial Sérgio Buarque de Holanda – Biblioteca Central Cesar Lattes, Universidade Estadual de Campinas].
FREYRE, Gilberto. Sergio, mestre de mestres. In: BARBOSA, Francisco de Assis (org.). Revista do Brasil, Rio de Janeiro, ano 3, n. 6, p. 117, 1987.
HOLANDA, Maria Amélia Buarque de. Apontamentos para a cronologia de Sérgio Buarque de Holanda. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Edição comemorativa dos 70 anos. Organização de Ricardo Benzaquen de Araújo e Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 421-446.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. A democracia é difícil. As observações e as conclusões de um especialista com base no exame da história (entrevista concedida a João Marcos Coelho). Veja. São Paulo, p. 3-6, 28 jan. 1976.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Corpo e Alma do Brasil: entrevista de Sérgio Buarque de Holanda [1981]. SOUZA, Laura de Mello et al.. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 69, p. 3-14, jul. 2004.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Depois da “Semana”. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Tentativas de Mitologia. São Paulo: Perspectiva, 1979a. p. 273-279.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Depois da Semana. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sérgio Buarque de Holanda: escritos coligidos. Livro II (1950-1979). Organização de Marcos Costa. São Paulo: Editora Unesp: Fundação Perseu Abramo, 2011a. p. 174-177. [Originalmente publicado no Diário Carioca, 24 fev. 1952].
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Em torno da Semana. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sérgio Buarque de Holanda: escritos coligidos. Livro II (1950-1979). Organização de Marcos Costa. São Paulo: Editora Unesp: Fundação Perseu Abramo, 2011b. p. 170-173. [Originalmente publicado no Diário Carioca, 17 fev. 1952].
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Novos rumos da Sociologia. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sérgio Buarque de Holanda: escritos coligidos. Livro I (1920-1949). Organização de Marcos Costa. São Paulo: Editora Unesp: Fundação Perseu Abramo, 2011c. p. 513-517. [Originalmente publicado no Diário Carioca, 3 out. 1948].
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O pensamento histórico no Brasil nos últimos cinquenta anos. In: PEREIRA, Mateus Henrique de F.; SANTOS, Pedro Afonso Cristóvão dos. Odisséias do conceito moderno de história. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo, n. 50, mar. 2010 [1951].
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O problema das culturas II. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sérgio Buarque de Holanda: escritos coligidos. Livro I (1920-1949). Organização de Marcos Costa. São Paulo: Editora Unesp: Fundação Perseu Abramo, 2011d. p. 192-197. [Originalmente publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 10 nov. 1940].
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 2. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1948.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Sociedade Patriarcal. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Tentativas de Mitologia. São Paulo: Perspectiva, 1979b. p. 99-110. [Originalmente publicado, em três partes, na Folha da Manhã, em 10, 13 e 23 nov. 1951].
HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1936.
KAUFFMANN, Robert Lane. The Skewed Path: Essaying as Unmethodical Method. In: BUTRYM, Alexander J. (ed.). Essays On The Essay: Redefining the Genre. Athens, Georgia: University of Georgia Press, 1989. p. 221-240.
LUKÁCS, Georg. Sobre a essência e a forma do ensaio: uma carta a Leo Popper. Tradução de Mario Luiz Frungillo. Revista UFG, Goiânia, ano 10, n. 4, 2008.
MACÉ, Marielle. Le temps de l’essai. Histoire d’un genre en France au XXe siècle. Tours: Belin, 2006.
MATA, Sérgio da. Tentativas de desmitologia: a revolução conservadora em Raízes do Brasil. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 36, n. 73, p. 1-25, jul/dez. 2016.
MONTAIGNE, Michel de. Montaigne. Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Abril Cultural, 1972. (Os Pensadores).
MONTEIRO, Pedro Meira. Signo e desterro: Sérgio Buarque de Holanda e a imaginação do Brasil. 1. ed. – São Paulo: Hucitec, 2015.
MORESCHI, Marcelo Seravali. A façanha auto-historiográfica do modernismo brasileiro (Brazilian Modernism as an Auto-historiographical Avant-Garde). 2010. Thesis (Doctor of Philosophy in Hispanic Languages and Literatures) – University of California, Santa Barbara, 2010.
NETO, João Cabral de Melo. Museu de tudo. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
NICODEMO, Thiago. Sérgio Buarque de Holanda e a dinâmica das instituições culturais no Brasil 1930-1960. In: MARRAS, Stelio (org.). Atualidade de Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Edusp/Instituto de Estudos Brasileiros, 2012. p. 109-132.
NICOLAZZI, Fernando. Um estilo de história: a viagem, a memória, o ensaio. Sobre Casa-grande & Senzala e a representação do passado. 2008. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
NIETZSCHE, Friedrich. A disputa de Homero. In: NIETZSCHE, Friedrich. Cinco prefácios para cinco livros não escritos. Tradução de Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 1996. p. 26-32.
ORIGEM DA PALAVRA. Site de etimologia. Disponível em: http://origemdapalavra.com.br. Acesso em: 16 nov. 2018.
ROCHA, João Cezar de Castro. O exílio do homem cordial; ensaios e revisões. Rio de Janeiro: Museu da República, 2004.
ROCHA, João Cezar de Castro. Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre: raízes de uma rivalidade literária. Dicta&Contradicta, Rio de Janeiro; São Paulo, n. 9, p. 10-28, 2012.
SANCHES, Dalton. Agonística buarquiana: Sérgio Buarque de Holanda em combates com Gilberto Freyre e Alceu Amoroso Lima (1920-1960). 2019. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Mariana, 2019.
SORÁ, Gustavo. A construção sociológica de uma posição regionalista. Reflexões sobre a edição e recepção de Casa-grande & Senzala de Gilberto Freyre. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 13, n. 36, 1998.
STAROBINSKI, Jean. Pour un temps/Jean Starobinski. Paris: Centre Georges Pompidou, 1985.
VECCHI, Roberto. Periphery as a Work Eccentric Modernities and Lusophone-Tropical Rearrangements. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 58, p. 17-34, jun. 2014.
VENANCIO, Giselle; WEGNER, Robert. Uma vez mais, Sérgio e Gilberto: debates sobre o ensaísmo no suplemento literário do Diário de Notícias (1948-1953). Varia Historia, Belo Horizonte, v. 34, n. 66, p. 729-762, set.-dez. 2018.
VERISSIMO, Erico. Uma literatura chega à maioridade [1945]. In: VERISSIMO, Erico. Breve história da literatura brasileira. Tradução de Maria da Glória Bordini. São Paulo: Globo, 1995. p. 119-126.
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
WAIZBORT, Leopoldo. O mal-entendido da democracia: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 1936. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 26, n. 76, p. 39-62, jul. 2011.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
O envio de manuscrito para a revista garante aos seus autores a manutenção dos direitos autorais sobre o mesmo e autoria que a revista realize a primeira publicação do texto. Os dados, conceitos e opiniões apresentados nos trabalhos, bem como a exatidão das referências documentais e bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores.
Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.