Figurações do canibalismo na história intelectual brasileira do século XX: ciências humanas, artes e temporalidades
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v15i38.1805Palavras-chave:
História intelectual brasileira, Temporalidades, Regimes de historicidadeResumo
Os cronistas e viajantes do século XVI deixaram interessantes registros de seu espanto diante do canibalismo praticado pelos povos indígenas que viviam na costa das terras brasileiras. Desde então, o motivo do canibalismo manteve uma existência vigorosa em nossa história intelectual. Ele integra uma história de longa duração: tem mais de cinco séculos e esteve presente em momentos decisivos e exemplares do pensamento brasileiro, tanto nas artes quanto nas humanidades. Ao desenharmos o movimento das figurações do canibalismo na história intelectual brasileira do século XX, estabelecemos uma possível conexão entre as discussões em curso na historiografia francesa e na etnologia indígena, via os trabalhos de François Hartog e de Eduardo Viveiros de Castro, sobre as múltiplas formas de temporalidades.
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