Os eternos movimentos (in)disciplinares entre a História e as Relações Internacionais: a importância do pensamento histórico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v15i38.1822

Palavras-chave:

Historiografia do século XX, Interdisciplinaridade, Teoria e História da Historiografia.

Resumo

Este artigo analisa os fundamentos historiográficos e teórico-metodológicos da relação (in)disciplinar entre a História e as Relações Internacionais (RI). Por meio de uma interpretação historiográfica, identifica os principais movimentos de afastamento e aproximação da História face às RI. O artigo tem dois objetivos fundamentais. O primeiro é demonstrar que, embora a História tenha um papel central na imaginação teórica da disciplina das RI, sua importância foi variável e refletiu os diferentes momentos políticos e científicos do seu nascimento, autonomização e maturidade. O segundo é problematizar as pontes e fronteiras entre as duas disciplinas, sublinhando a importância que o pensamento histórico tem para a análise das relações internacionais. O seu principal argumento é que o retorno do pensamento histórico à disciplina das RI mitiga as limitações a-históricas e associais do neopositivismo dominante e aumenta a sofisticação da compreensão reflexiva do estudo das relações internacionais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALMEIDA, P. R. O Instituto Brasileiro de Relações Internacionais e a Revista Brasileira de Política Internacional: contribuição intelectual (1954 a 2014). Meridiano 47 – Journal of Global Studies, Brasília, v. 15, n. 146, 2014. p. 3-18.

ADLER, E: POULIOT, V. (eds). International Practices. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

BARTELSON, Jens. Sovereignty as Symbolic Form. London: Routledge, 2014.

BLOCH, Marc. Introdução à História. Lisboa: Europa-América, 1997.

BOURDIEU Pierre. Le champ scientifique. Actes de la recherche en sciences sociales. v. 2, n. 2-3, 1976. p. 88-104.

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa, Difel, 1989.

BOURDIEU, Pierre. Homo academicus. Paris: Minuit. 1984.

BULL, Hedley. International Theory: the case of classical approach. Word Politics, v. 18, n. 3, 1966. p. 361-377.

BUZAN, Barry; LITTLE, Richard Why International Relations has Failed as an Intellectual Project and What to Do About It. Millennium, v. 30, n. 1, 2011. p. 19–39.

BUZAN, Barry; LITTLE, Richard. International System in World History: Remaking the Study of International Relations. Oxford: OUP, 2000.

CARR, Edward. The Twenty Years Crisis 1919 to 1939: An Introduction to the Study of International Relations. London: Palgrave. [1939] 2001.

CARR, Edward. What is History? London: Penguin, 1961.

CERVO, Amado L. Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.

COLLIER, R., B.; MAZZUCA, S. Does History Repeat? In: GOODIN, Robert E..; TILLY, Charles. (eds). The Oxford handbook of contextual political analysis. New York: Oxford University Press, 2006, p. 472-489.

CRAIG, Gordon Alexander. On the nature of diplomatic history: The relevance of some old books. In: Tact and intelligence: essays on diplomatic history and international relations. Palo Alto: SPSS, 2008. p. 21-42.

DE CARVALHO, B.; COSTA LOPEZ, J.; LEIRA, H. Routledge Handbook of Historical International Relations. New York: Routledge, 2021.

DESCH, Michael. Cult of the Irrelevant: The Waning Influence of Social Science on National Security. Princeton: PUP, 2019.

DUROSELLE, Jean-Baptiste. L’étude des Relations Internationales. Objet, méthodes, perspectives. Revue Française de Science Politique, v. 56, 1952. p. 676-701.

DUROSELLE, Jean-Baptiste. Tout empire périra: Théorie des Relations Internationales. Paris: Armand Colin, 1992.

ELMAN, Colin; ELMAN, Miriam F. (eds). Bridges and Boundaries. Historians, Political Scientists, and the Study of International Relations. Cambridge: MIT Press, 2001.

FORUM IR. Forum on IR in the Prison of Political Science. International Relations, v. 31, n. 1, 2017. p. 71–75.

FORUM ISR. Forum: In the Beginning there was No Word (for It): Terms, Concepts, and Early Sovereignty. International Studies Review, v. 20, n. 3, 2018. p. 489–519.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FOUCAULT, Michel. Power/Knowledge. New York: Pantheon, 1980.

GOFAS, Andreas; HAMATI-ATAYA, Inanna; ONUF, Nicholas (ed). Handbook of the History, Philosophy and Sociology of International Relations. New York: Sage, 2018.

HERZ, Mônica. O Crescimento da área de relações internacionais no Brasil. Contexto int., Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, 2002. p. 7-40.

HOBSON, John, LAWSON George. What Is History in International Relations? Millennium, v. 37, n. 2, 2008. p. 415-435.

HOFFMANN, Stanley. An American Social Science: International Relations. Daedalus, v.106, n. 3, 1977. p. 41-60.

HOLLIS, Martin; SMITH, Steve. Explaining and Understanding International Relations. Oxford: Clarendon Press, 1991.

ISACOFF, Jonathan. On the historical imagination of International Relations: The case for a ‘Deweyan reconstruction. Millennium, v.31, n. 3, 2002. p. 603-626.

JERVIS, R. International history and international politics: Why are they studied differently? In: ELMAN, C., ELMAN, M. (eds). Bridges and Boundaries. Historians, Political Scientists, and the Study of International Relations. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 385–402.

KOLIOPOULOS, C. International Relations and the Study of History. Oxford Research Encyclopedia of International Studies, 2017.

KRATOCHWIL Friedrich. Praxis: On Acting and Knowing. Cambridge: CUP, 2018.

KRATOCHWIL, Friedrich. History, Action and Identity: revisiting the second great debate and assessing its importance for social theory. European Journal of International Relations, v. 12, n. 1, 2006. p. 5-29.

KRATOCHWIL, Friedrich, Making Sense of ‘International Practices’. In: ADLER, E.; POULIOT, V. (eds). International Practices. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. p. 36-60.

KUBÁLKOVÁ, Vendulka. The Twenty Year’s Catharsis: E.H. Carr and IR. In: KUBÁLKOVÁ, Vendulka; ONUF, Nicholas; KOWERT, Paul (ed). International Relations in a constructed World. NY: M.E. Sharpe, 1998. p. 25-57.

KUSTERMANS, J. Parsing the Practice Turn: Practice, Practical Knowledge, Practices. Millennium, V. 44, n. 2, 2016. p. 175-196.

LAUREN, Paul Gordon. Diplomacy, New Approaches in History, Theory and Policy. London: Free Press, 1979.

LAWSON, G. International relations as a historical social science. In: GOFAS, Andreas; HAMATI-ATAYA, Inanna; ONUF, Nicholas (ed). Handbook of the History, Philosophy and Sociology of International Relations. New York: Sage, 2018. p. 75-89.

LAWSON, G. Anatomies of Revolution. Cambridge: CUP, 2019.

LAWSON, G. The eternal divide? History and International Relations. European Journal of International Relations, v.18, n. 2, 2012. p. 203-226.

LESSA, Antônio C. Instituições, atores e dinâmicas do ensino e da pesquisa em Relações Internacionais no Brasil: o diálogo entre a história, a ciência política e os novos paradigmas de interpretação. Rev. Bras. Polít. Int, Brasília, v. 48, n. 2, 2005. p. 169-184.

LEVY, J. S. Explaining events and testing theories: History, political science, and the analysis of international relations. In: ELMAN, C.; ELMAN, M. (eds). Bridges and Boundaries. Historians, Political Scientists, and the Study of International Relations. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 39-83.

LUARD, Evan (ed). Basic Texts in International Relations: The Evolution of Ideas about International Society. London: Macmillan, 1992.

MACEDO, J. B. História Diplomática Portuguesa. Constantes e Linhas de Força, IDN: Lisboa, 1987.

MACKAY, J.; LAROCHE, C. Historical Theories of International Relations. Oxford Research Encyclopedia of International Studies, 2020.

MAHONEY, J.; SCHENSUL, D. Historical Context and Path Dependence. In: GOODIN, Robert E.; TILLY, Charles. (eds) The Oxford handbook of contextual political analysis. New York: Oxford University Press, 2006. p. 454-471.

McCOURT, David. What’s at Stake in the Historical Turn? Theory, Practice and Phronēsis in International Relations. Millennium, v. 41, n.1, 2012. p. 23-42.

MENDES, P. E. A (re) invenção das relações internacionais na viragem do século: o desafio do construtivismo. Relações Internacionais, Lisboa, n. 36, 2012. p. 105-118.

MENDES, P. E. As relações internacionais como ciência social: dialética entre história e teoria. In: F. Sousa e P. Mendes (eds.), Dicionário das Relações Internacionais, Porto, Afrontamento, 2014. p. xvi-xxxvi.

MENDES, P. E. Identidade, ideias e normas na construção dos interesses em política externa: o caso português. Análise Social, Lisboa, 227, LIII (2), 2018. p. 458-487.

MENDES, P. E. The birth of International Relations as a social science: a comparative analysis of the Anglo-American world and continental Europe. Austral: BJS&IR, Porto Alegre, v. 8, n. 16, 2019a. p. 19-50.

MENDES, P. E. As teorias principais das Relações Internacionais: uma avaliação do progresso da disciplina. Relações Internacionais, Lisboa, n. 61, 2019b. p. 95-122.

MENDES, P. E. R(r)elações I(i)nternacionais, Realismo e Análise da Política Externa (APE): contextualizando a invenção da APE. Estudos Internacionais, Belo Horizonte, v. 8, n. 1, 2020a. p. 64-88.

MENDES, P. E. Perceções e imagens na política externa do Estado Novo: a importância do triângulo identitário. Dados, Rio de Janeiro, v. 63 n. 3, 2020b. e20190067.

MENDES, P. E. Os dilemas da renovação na continuidade e o legado de Marcello Caetano: do outono ao inverno. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 29, 2020c. e0205: 1-35.

MENDES, P. E. Marcelo Caetano, do idealismo da juventude à política real (1906-1944): uma teorização histórico-sociológica. Tempo Social, São Paulo, v. 33, n.1, 2021a. p. 121-144.

MENDES, P. E. Os choques percecionais do falhado processo de descolonização de Timor (1974-1975). Revista Brasileira de História, São Paulo, n. 87, v. 42, 2021b. p. 255-279.

MENDES, P. E. Marcelo Caetano e a sua circunstância rumo à liderança: poder simbólico, ambição e adaptação. Opinião Pública. Campinas, v. 27, n. 3, 2021c. p. 1024-1057.

PUCHALA, Donald. Theory and History in International Relations. London: Routledge, 2003.

RENOUVIN Pierre. Histoire des relations internationales. Tomes 7 et 8. Les Crises du xxe siècle. I, De 1914 1929. II. De 1929 1945. Paris Hachette. 1957/1958.

RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introduction à l’Histoire des Relations Internationales. Paris: A. Colin, 1964.

RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introduction à l’Histoire des Relations Internationales. Paris: A. Colin, 4ª edition, 1991.

ROBERTS, Geoffrey. History, Theory and the Narrative Turn in IR. Review of International Studies, v. 32, n. 4, 2006. p. 703-714.

ROSENBERG, Justin. International Relations in the Prison of Political Science, International Relations, v. 30, n. 2, p. 127–153, 2016.

SANTOS, Norma Breda dos; FONSECA, Fúlvio Eduardo. A pós-graduação em relações internacionais no Brasil. Contexto int. Rio de Janeiro, v. 31, n. 2, p. 353-380, 2009.

SARAIVA, José Flávio; CERVO, Amado (org.) O crescimento das relações internacionais no Brasil. Brasília: IBRI, 2005.

SCHMIDT, Brian; GUILHOT, Nicolas. (ed.) Historiographical Investigations in International Relations. London: Palgrave Macmillan, 2019.

SCHROEDER, P. W. International history: Why historians do it differently than political scientists. In: ELMAN, C., ELMAN, M. (eds). Bridges and Boundaries. Historians, Political Scientists, and the Study of International Relations. Cambridge: MIT Press, 2001, p. 403–416.

SIMON, Z. B. Os teóricos da História possuem uma Teoria da História? Reflexões sobre uma não disciplina. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 12, n. 29, 28 abr. 2019.

SMITH, Steve. Singing Our World into Existence: International Relations Theory and September 11, International Studies Quarterly, v. 48, n. 3, 2004. p. 499-515.

SUGANAMI, Hidemi. Narrative Explanation and International Relations: Back to Basics. Millennium, v. 37, n. 2, 2008. p. 327-356.

SUZUKI, S, ZHANG, Y, QUIRK, J. (eds). International Orders and the Early Modern World. Abingdon: Routledge, 2014.

SYMPOSIUM: HISTORY AND THEORY, International Security, v. 22, n. 1. 1997.

TEIXEIRA, Nuno. Portugal. In: FREIRE, M. (ed.). Política Externa: As Relações Internacionais em Mudança. 2 ed. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. p. 355-364.

TILLY, Charles; GOODIN, Robert. It Depends. In: GOODIN, Robert E.; TILLY, Charles. (eds) The Oxford handbook of contextual political analysis. New York: Oxford University Press, 2006. p. 3-34.

TILLY, Charles. Why and How History Matters. In: GOODIN, Robert E.; TILLY, Charles. (eds) The Oxford handbook of contextual political analysis. New York: Oxford University Press, 2006. p. 417-434.

TRACHTENBERG, M. The Cold War and After: History, Theory, and the Logic of International Politics. Princeton: PUP, 2012.

TRACHTENBERG, M. The Craft of International History. Princeton: PUP, 2006.

VAUGHAN-WILLIAMS, Nick. International Relations and the problem of History. Millennium, v. 34, n. 1, 2005. p. 115-136.

VIGEZZI, Brunello. L’Italia di fronte alla prima guerra mondiale. L’Italia neutrale. Milano-Napoli: Ricciardi, 1966.

VIGEZZI, Brunello. Politica estera e opinione pubblica in Italia da’l’Unità ai nostri giorni (1855-1980). Orientamenti degli studi e prospettive di ricerca. Milão: Edizioni Universitarie Jaca, 1991.

VIGEZZI, Brunello. L’Italia di fronte alla prima guerra mondiale. Milão: Mondadori Bruno, 2017.

VIGEZZI, Brunello. The British committee on the Theory of International Politics (1954-1985). The rediscovery of History. Milão: Edizioni Unicopli, 2005.

VIGEZZI, Brunello. Théoriciens et Historiens des relations internationales: discussions et perspectives. In: DUROSELLE, Jean-Baptiste. Tout empire périra. Paris: Armand Colin, 1992, p. 330-346.

WALTER, T. The road (not) taken? How the indexicality of practice could make or break the ‘New Constructivism’. European Journal of International Relations, v. 25, n. 2, 2019. p. 538-561.

WOHLFORTH, Postscript: Historical science and Cold War scholarship. In: ELMAN, C., ELMAN, M. (eds). Bridges and Boundaries. Historians, Political Scientists, and the Study of International Relations. Cambridge: MIT Press, 2001. p. 351-358.

ZARAKOL, A. Before the West: The Rise and Fall of Eastern World Orders (LSE International Studies). Cambridge: Cambridge University Press, 2022.

Downloads

Publicado

2022-04-27

Como Citar

MENDES, P. Os eternos movimentos (in)disciplinares entre a História e as Relações Internacionais: a importância do pensamento histórico. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 15, n. 38, p. 167–200, 2022. DOI: 10.15848/hh.v15i38.1822. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/1822. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigo original