Os lusíadas, 450 anos depois
hipóteses de leitura
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v15i40.1929Palavras-chave:
História Moderna, Retórica, PoéticaResumo
Este artigo reúne informações e análises para um primeiro esforço de interpretação d’Os lusíadas (1572), de Camões, alheio aos critérios românticos de universalização das categorias artísticas e atento aos códigos de composição da épica, que são retóricos, imitativos, prescritivos, voltados para uma concepção providencial de tempo e para uma noção de verdade amparada nos mistérios que fundamentam a metafísica cristã. A explicitação de conceitos como autor, leitor, epopeia, dentre outros, ajuda a historicizar o repertório coevo da produção poética quinhentista. Se o verso heroico não é, apenas, depositário de epígrafes ou “ilustração” dos “fatos históricos”, a partir do momento em que é concebido como documento ou fonte, faz-se necessário considerar aquilo que institui sua legibilidade e tangencia seu contexto de composição, sediado na sociedade de corte portuguesa do tempo do Rei d. Sebastião. Por fim, este texto investiga diferentes modalidades de recepção sem apagar suas diferenças culturais. Tal percurso busca demonstrar que o poema condensa os dilemas de uma época e sustenta o plus ultra, a ação que desafia limites ao supor o alcance global da iniciativa lusitana.
Downloads
Referências
AGUIAR E SILVA, Vítor. A lira dourada e a tuba canora: novos ensaios camonianos. Lisboa: Livros Cotovia, 2008.
ALVES, Hélio J. S. Camões, Corte-Real e o sistema da epopeia quinhentista. Coimbra: Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, 2001.
ANÔNIMO. Retórica a Herênio (c. 82 a.C.). São Paulo: Hedra, 2005.
ARISTÓTELES. Arte Poética. In: BRANDÃO, R. O. A poética clássica/Aristóteles, Horácio, Longino. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1985.
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antonio Pinto de Carvalho. São Paulo: Edições de Ouro, 1980.
ARISTÓTELES. Retórica. Tradução, textos adicionais e notas de Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2011.
BARBOSA, Jerônimo Soares. Analyse dos Lusiadas de Luiz de Camões. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1859.
BICALHO, Maria Fernanda. Pacto colonial, autoridades negociadas e o Império Ultramarino Português. In: SOIHET, Rachel et al. (org.). Culturas políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005. p. 85-105.
BRAGA, Teófilo. Camões: a obra lírica e épica. Porto: Livraria Chardron, 1911.
BRANDÃO, Jacyntho Lins. A “Epopeia Gilgamesh” é uma epopeia? ArtCultura, Uberlândia, v. 21, n. 38, p. 9-24, 2019.
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Organização, apresentação e notas de Jane Tutikian. Porto Alegre: L&PM, 2008.
CHAUVIN, Jean Pierre. Camões, retratista. Letras, Curitiba, n. 1, p. 13-31, 2019.
CIDADE, Hernâni. Luís de Camões: o épico. Amadora: Bertrand, 1975.
DAMASCENO, João. Discurso apologético contra os que rejeitam as imagens sagradas. In: LICHTENSTEIN, Jacqueline. A pintura: A teologia da imagem e o estatuto da pintura. São Paulo: Ed. 34, 2004. p. 26-46. vol. 2.
FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral. A poesia épica e a experiência trágica: o naufrágio de Sepúlveda. ArtCultura, Uberlândia, v. 21, n. 38, p. 91-106, 2019.
FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral. Heroísmo na singradura dos mares: histórias de naufrágios e epopeias nas conquistas ultramarinas portuguesas. Jundiaí: Paco, 2018.
FIGUEIREDO, João. IV Centenário da morte de Luiz de Camões. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional do Brasil, 1980.
GARRETT, Almeida. Camões. 5. ed. Lisboa: Casa da Viúva Bertrand e Filhos, 1858.
GONZAGA, Tomás Antônio. A Conceição: o naufrágio do Marialva. Transcrição, introdução e notas de Ronald Polito de Oliveira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.
HANSEN, João Adolfo. A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII, São Paulo: Ateliê Editorial, Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
HANSEN, João Adolfo. Autor. In: JOBIM, José Luis (org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. p. 11-43.
HANSEN, João Adolfo. Barroco, Neobarroco e Outras Ruínas. Floema Especial, Bahia, a. 2, n. 2, p. 171-217, 2006.
HANSEN, João Adolfo. Introdução. In: PÉCORA, Alcir. Poesia seiscentista – Fênix renascida & Postilhão de Apolo. São Paulo: Hedra, 2002.
HANSEN, João Adolfo. Lugar-comum. In: MUHANA, Adma; LAUDANNA, Mayra; BAGOLIN, Luiz Armando (orgs.). Retórica. São Paulo: Annablume; EIB, 2012.
HANSEN, João Adolfo. Nenhuma leitura é natural: o livro como signo. Ensaio Geral, Niterói, n. 1, p. 11-22, 2021.
HESPANHA, António Manuel. A constituição do Império português. Revisão de alguns enviesamentos correntes. In: FRAGOSO, João et al. (org.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 163-188.
HOMERO. Odisseia. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
HORÁCIO. Arte poética. In: BRANDÃO, Roberto de Oliveira. A poética clássica/Aristóteles, Horácio, Longino. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1985.
KANTOROWICZ, Ernst Hartwig. Os dois corpos do Rei: um estudo sobre teologia política medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LACHAT, Marcelo. Letras e literatura: continuidades e descontinuidades. Revista USP, São Paulo, n. 121, p. 45-60, 2019.
LACHAT, Marcelo; SANTOS, Maíra R. M. Os lusíadas e uma viagem à Índia: entre poesia e história. Revec, São Cristóvão, v. 4, n. 12, p. 137-152, 2018.
LACHAT, Marcelo. O tempo entre ficção e filosofia: sobre a História do cerco de Lisboa, de José Saramago. Estudos Avançados, São Paulo, v. 34, n. 98, p. 331-344, 2020.
MACHADO, Rodrigo Corrêa Martins. Submersão, subversão trágica de Baco n’Os Lusíadas. Abril, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, p. 149-165, 2016.
NÓBREGA, Luiza. Camões e Baco: a exclusão e dissidência como agentes genético-semântico n’Os Lusíadas. Abril, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 35-50, 2012.
OVÍDIO. Tristia, cantos II, vv. 19-22. In: BARBOSA, Tereza Virgínia Ribeiro; TREVIZAM, Matheus; AVELLAR, Júlia Batista Castilho de. Tempestades Clássicas: dos antigos à era dos descobrimentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2018. p. 268-278.
PÉCORA, Alcir. Máquina de Gêneros: novamente descoberta e aplicada a Castiglione, Della Casa, Nóbrega, Camões, Vieira, La Rochefocauld, Gonzaga, Silva Alvarenga e Bocage. São Paulo: EDUSP, 2001.
PÉCORA, Antonio Alcir Bernárdez. Política do céu (anti-Maquiavel). In: NOVAES, Adauto. Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 127-142.
PÉCORA, Alcir. Teatro do Sacramento: a unidade teológico-retórico-política dos sermões de António Vieira. São Paulo: Editora da Unicamp, 2008.
PEREIRA, Fernando Alves. Uma leitura dos excursos n’Os Lusíadas. 2005. Dissertação (Mestrado em Literatura Comparada) – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.
QUINTILIANO. Institutio oratoria. Edizione con testo a fronte a cura di Adriano Pennacini. Torino: Einaudi, 2001.
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica. 2. ed. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
REIMER, Haroldo. Inefável e sem forma: estudos sobre o monoteísmo hebraico. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: UCG, 2009.
RODOLPHO, Melina. Écfrase e Evidência. Let. Cláss., São Paulo, v. 18, n. 1, p. 94-113, 2008.
SARAIVA, António José. Luís de Camões: estudo e antologia. Lisboa: Livraria Bertrand, 1980.
SÊNECA. Agamêmnon. Tradução, introdução, posfácio e notas de José Eduardo dos Santos Lohner. São Paulo: Globo, 2009.
TASSO, Torquato. Discorsi dell´Arte Poetica ed in Particolare Sopra il Poema Eroico. Milano: Mursia Editore, 1974.
TEIXEIRA, Ivan. Hermenêutica, retórica e poética nas letras da América Portuguesa. Revista USP, São Paulo, n. 57, p. 138-159, 2003.
VERNEY, Luís António. Verdadeiro Método de Estudar (Cartas sobre Retórica e Poética). Lisboa: Editorial Presença, 1991.
VIRGÍLIO. Eneida de Virgílio. Tradução de José Victorino Barreto Feio e José Maria da Costa e Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Cleber Vinicius do Amaral Felipe
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
O envio de manuscrito para a revista garante aos seus autores a manutenção dos direitos autorais sobre o mesmo e autoria que a revista realize a primeira publicação do texto. Os dados, conceitos e opiniões apresentados nos trabalhos, bem como a exatidão das referências documentais e bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores.
Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.