A autópsia como recurso à escrita da história

o valor da visualidade na historiografia brasileira durante o século XIX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v16i41.1974

Palavras-chave:

Escrita da História, Erudição, Historiografia brasileira

Resumo

Recurso fundamental para a escrita da história antiga, a autópsia, concebida como o ato de ver por si mesmo, segundo François Hartog, não deixou de participar do desenvolvimento do conhecimento histórico na modernidade. É certo, todavia, que os pressupostos que nortearam o procedimento passaram por profundas modificações. O objetivo deste artigo é investigar o estatuto da autópsia como um recurso epistemológico para a historiografia brasileira durante o século XIX. Com esse intuito, considera-se como parte do corpo documental tanto trabalhos voltados para a elaboração da crítica erudita, quanto textos prescritivos acerca do fazer historiográfico no período. A fim de mapear seus diversos usos, a autópsia moderna é contrastada com sua versão antiga e é abordada a partir da noção de distância histórica. Esses encaminhamentos permitem apreender a autópsia como um expediente múltiplo, concebido não apenas como um modo de legitimar relatos e práticas, mas também como uma forma de mediação entre o historiador, as temporalidades, o território e as fontes mobilizadas na reconstrução do passado.

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Biografia do Autor

Eduardo Wright Cardoso, PUC-Rio

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2010. Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em 2012. Doutor em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 2016. Pós-doutorado (PNPD/Capes) vinculado à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em 2017. Professor de Teoria da História na PUC-Rio. 

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Publicado

2023-12-26

Como Citar

WRIGHT CARDOSO, E. . A autópsia como recurso à escrita da história: o valor da visualidade na historiografia brasileira durante o século XIX. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1–25, 2023. DOI: 10.15848/hh.v16i41.1974. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/1974. Acesso em: 18 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigo original