Corpos e gênero na história da historiografia brasileira
as possibilidades do “ser historiador” através das memórias de Alice Canabrava (1981-1997)
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v16i41.2001Palavras-chave:
Gênero, História do corpo, Alice Piffer CanabravaResumo
Esse artigo orienta-se pela constatação de uma ausência na história intelectual e na história da historiografia: a de
se pensar o corpo dos historiadores. A corporeidade, paralelamente ao gênero, é recalcada na maioria dos trabalhos historiográficos, excluindo-se um dos elementos fundantes das relações de poder que permanecem marginalizando aqueles que escapam às normas de gênero, raça, sexualidade (entre outros marcadores), seja da produção do saber ou como objetos de investigação. Para adentrar tal discussão, a proposta deste artigo é investigar as memórias da historiadora paulista Alice Canabrava a fim de compreender o papel do gênero e das performances corporais na formulação de identidades historiadoras por ela. Seja na reflexão que Alice faz de sua própria trajetória acadêmica ou na caracterização de certos historiadores como tipo ideal, gênero e corpo são reiteradamente evocados. A historiadora, por meio de suas memórias e na elaboração de si à imagem de certos historiadores canonizados, como Fernand Braudel, reafirmou modelos culturais que estabeleceram normas de gênero aos historiadores ao final do século XX.
Downloads
Referências
ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010.
ARQUIVO FAMILIAR, FEA/USP, 1984. Montagem de fotografia e carta.
ARQUIVO FAMILIAR, sem identificação de local e data. Fotografia.
BEARD, Mary. Mulheres e poder: um manifesto. Tradução de Celina Portocarrero. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.
BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Tradução: Rogério Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
CANABRAVA, Alice. Alice Piffer Canabrava: historiadora (1984). In: BLAY, Eva Alterman; LANG, Alice Beatriz da Silva Gordo (org.). Mulheres na USP: horizontes que se abrem. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004. p. 85-105.
CANABRAVA, Alice. Entrevista. Projeto Estudos Brasileiros. MIS/SP, 1981. 00035EBR00027AD (Estudos Brasileiros rolo 116.28A-0151)
CANABRAVA, Alice. História e Economia (1985). In: CANABRAVA, Alice. História Econômica: estudos e pesquisas. São Paulo: Hucitec; Unesp; ABPHE, 2005. p. 271-283.
CANABRAVA, Alice. Minhas Reminiscências. Economia aplicada, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 157-163, 1997.
CANABRAVA, Alice. Carta a Lúcia. São Paulo, 16 dez. 1984. Fundo Alice Piffer Canabrava. Arquivo IEB/USP. APC-LÚCI-003.
CANABRAVA, Alice. Carta a Maria Celestina Teixeira Mendes Torres. São Paulo, 26 de set. 1983. Fundo Alice Piffer Canabrava. Arquivo IEB/USP. APC-TORR-002.
CAPELATO, Maria Helena Rolim; FERLINI, Vera Lucia Amaral; GLEZER, Raquel. Escola uspiana de História. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, p. 349-358, 1994. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9719/11291. Acesso em: 12 jul. 2023.
CARDOSO, Fernando Henrique. Entrevista. In: BASTOS, Elide Rugai; ABRUCIO, Fernando; LOUREIRO, Maria Rita; REGO, José Márcio. Conversas com sociólogos brasileiros. São Paulo: Ed. 34, 2006. p. 70-94.
CAVARERO, Adriana. Relating Narratives: Storutelling and Selfhood. Tradução para o inglês de Paul A. Kottman. Londres: Routledge, 2000.
COSTA, Aryana Lima. De um curso d’água a outro: memória e disciplinarização do saber histórico na formação dos primeiros professores no curso de História da USP. 2018. Tese (Doutorado em História) - Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
COSTA, Albertina; BARROSO, Carmen; SARTI, Cynthia. (1985). Pesquisa sobre mulher no Brasil - do limbo ao gueto?. Cadernos De Pesquisa, (54), p. 5–15. Recuperado de https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/1389. Acesso em: 12 jul. 2023.
DASTON, Lorraine. Historicidade e objetividade. São Paulo: LiberArs, 2017. 143p.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? São Paulo: Ed. 34, 2016.
HOUNTONDJI, Paulin J. Endogenous knowledge: research trails. Dakar: CODESRIA, 1997.
LE GOFF, Jacques; TRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2006.
LIBLIK, Carmem. Uma História toda sua: trajetórias de historiadoras brasileiras (1934-1990). 2017. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017.
LUGONES, Maria. Colonialidad y gênero. Tabula Rasa, Bogotá, n. 9, p. 73-101, jul.-dic., 2008. Disponível em: revistatabularasa.org/numero-9/05lugones.pdf. Acesso em: 12 jul. 2023.
OLIVEIRA, Eduardo Jorge. Posfácio : a emoção segundo G.(D-)H. In: DIDI-HUBERMAN, Georges. A vertical das emoções: as crônicas de Clarice Lispector. Belo Horizonte: Relicário, 2021. p. 47-73.
QUIJANO, Anibal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas, Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107-126.
RODRIGUES, Lidiane. Eles e elas na gênese da institucionalização do curso de História da USP. In: MORAES, Marieta F. de. Universidade e ensino de história. São Paulo: FGV, 2020. p. 35-69.
ROIZ, Diogo; SANTOS, Jonas. As transferências culturais na historiografia brasileira: leituras e apropriações do movimento dos Annales no Brasil. Jundiaí: Paco Editorial, 2012.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, jul/dez., 1990, p. 71-99. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/71721. Acesso em: 12 jul. 2023.
VENÂNCIO, Giselle. Prefigurações da paisagem historiográfica: revistas, coleções e mediação. In: GOMES, Ângela de Castro; HANSEN, Patrícia (org.). Intelectuais mediadores: práticas culturais e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 436-465.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Laura Jamal Caixeta
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
O envio de manuscrito para a revista garante aos seus autores a manutenção dos direitos autorais sobre o mesmo e autoria que a revista realize a primeira publicação do texto. Os dados, conceitos e opiniões apresentados nos trabalhos, bem como a exatidão das referências documentais e bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores.
Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.