Passado futuro: o cronótopo da formação e sua crise em Os embaixadores, de Henry James

El cronotopo de formación y su crisis en Los embajadores, de Henry James

Autores

  • Luiza Larangeira da Silva Mello Universidade Federal do Rio de Janeiro/Professora Adjunta

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v16i41.2050

Palavras-chave:

Romance de formação, Tempo histórico, Henry James

Resumo

Este artigo busca compreender de que modo Os Embaixadores, romance de Henry James publicado em 1903,
reconfigura a temporalidade da Bildung e alguns topoi fundamentais do romance de formação. O romance moderno apresenta-se como uma das formas históricas de temporalização do tempo e, entre as suas modalidades, o romance de formação destaca-se por aquilo que Mikhail Bakhtin chama de caráter “cronotópico”, ou seja, a capacidade de articular à temporalidade da formação do protagonista a noção de “tempo histórico”, que, segundo Reinhart Koselleck, emerge entre os séculos XVIII e XIX, como um tempo heterogêneo, acelerado, irreversível, não redutível ao tempo natural ou cronológico. Ao analisar o modo pelo qual Henry James apropria-se do e subverte o ideal alemão da Bildung, introduzido nos círculos letrados norte-americanos, em especial pela influência da obra ensaística de Ralph Waldo Emerson, pretendo argumentar que, ao narrar a Bildung tardia de um norte-americano de cinquenta e cinco anos em sua aventura europeia, Os Embaixadores figura literariamente a crise do tempo histórico e do cronótopo da Bildung na virada do século XIX para o XX. Conclui-se que o romance põe em cena uma Bildung “reversa”, constitui a forma pela qual James converte o “futuro passado”, característico da moderna temporalização do tempo, em “passado futuro”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luiza Larangeira da Silva Mello, Universidade Federal do Rio de Janeiro/Professora Adjunta

Professora adjunta da área de Teoria e Metodologia da História do Instituto de História e professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Referências

ARMSTRONG, Paul B. The Challenge of Bewilderment: Understanding and representation in James, Conrad, and Ford. Ithaca: Cornell University Press, 1987.

BAKTHIN, Mikhail. O romance de educação e sua importância na história do realismo. In: BAKTHIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 204-258.

BAKHTIN, Mikhail. Teoria do Romance II: as formas do tempo e do cronotopo. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018.

BAKHTIN, Mikhail. O romance como gênero literário. In: BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance III: o romance como gênero literário. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2019. p. 65-111.

BEISER, Frederick C. The romantic imperative. The concept of early German Romanticism. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2003.

BERLIN, Isaiah. As raízes do Romantismo. Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Fósforo, 2022.

BRUFORD, W. H. The German Tradition of Self-cultivation: Bildung from Goethe to Thomas Mann. New York: Cambridge University Press, 2009.

CALDAS, Pedro Espínola. O murmurante evocador do passado: A montanha mágica e o romance de formação após a Primeira Guerra Mundial, História da Historiografia, Ouro Preto, v. 7, n. 16, p. 107-120, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3gbMPg4. Acesso em: 12 ago. 2022.

DUARTE, Luiz Fernando Dias. A pulsão romântica e as ciências humanas no Ocidente. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 19, n. 55, p. 5-18, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3T7tqvu. Acesso em: 05 ago. 2022.

DUMONT, Louis. Wilhelm von Humboldt, or Bildung alive. In: DUMONT, Louis. German Ideology: from France to Germany and back. Chicago: The University of Chicago Press, 1994. p. 82-144.

EMERSON, Ralph Waldo. Ensaios. Tradução de José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1966.

GODOY, Gabriel Gimenes. Narrador desconfiado, consciência hesitante: a experiência de Os Embaixadores de Henry James. Magma. São Paulo, v. 27, n. 16, p. 95-123, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3ewqSYG. Acesso em: 06 out. 2022.

GOETHE, Johann Wolfgang von. Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister. Tradução de Nicolino Simone Neto. São Paulo: Editora 34, 2009.

GUEUS, Raymond. Kultur, Bildung, Geist. History & Theory, Middletown, v. 25, n. 2, p. 152-164, 1996. Disponível em: https://bit.ly/3I0Y99k. Acesso em: 05 out. 2022.

HARTOG, François. La temporalisation du temps: une longue marche. Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares/UFMG, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3yHzgeG. Acesso em: 10 ago. 2022.

JAMES, Henry. A arte da ficção. In: JAMES, Henry. A arte da ficção. Tradução de Daniel Piza. Osasco: Novo Século, 2011. p. 11-10.

JAMES, Henry. Os Embaixadores. Tradução de Marcelo Pen Parreira. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

JAMES, Henry. Literary Criticism. New York: The Library of America, 1984.

JEFFERS, Thomas L. Apprenticeships: The Bildungsroman from Goethe to Santayana. New York: Macmillan, 2005.

JEFFERSON, Thomas. The Writings of Thomas Jefferson: autobiography, correspondence, reports, messages, addresses and other writings, official and private. Vol. III. New York: Taylor & Maury, 1854.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Puc-Rio, 2006.

KOSELLECK, Reinhart. Sobre a estrutura antropológica e semântica do conceito de Bildung. In: KOSELLECK, Reinhart. Histórias de conceitos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2020. p. 115-168.

LEWIS, R. W. B. The American Adam: Innocence, Tragedy and Tradition in the nineteenth Century. Chicago; London: The University of Chicago Press, 1975.

LUKÁCS, Gyorgy. A teoria do romance. Tradução de José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2000.

MAAS, Wilma Patricia. O cânone mínimo: o Bildungsroman na história da literatura. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

MAZZARI, Marcus Vinicius; MARKS, Maria Cecília Marks. Romance de formação: caminhos e descaminhos do herói. Cotia: Ateliê Editorial, 2020.

MAZZARI, Marcus Vinicius. Labirintos da aprendizagem: pacto fáustico, romance de formação e outros temas de literatura comparada. São Paulo: Editora 34, 2010.

MORETTI, Franco. Romance de Formação. Tradução de Natasha Belfort Palmeira. São Paulo: Todavia, 2020.

NETO, Flavio Quintale. Para uma interpretação do conceito de Bildungsroman. Pandaemonium Germanicum, Rio de Janeiro, n. 9, p. 185-205, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3YO8hc7. Acesso em: 8 fev. 2023.

PARREIRA, Marcelo Pen. Realidade possível: os dilemas da ficção em Henry James e Machado de Assis. Cotia: Ateliê Editorial, 2012.

RINGER, Fritz. Racionalidade e cultura. In: RINGER, Fritz. O declínio dos mandarins alemães: a comunidade acadêmica alemã, 1890-1933. São Paulo: EdUSP, 2000. p. 92-98.

SIMMEL, Georg. O conceito e a tragédia da cultura. Tradução de Lenin Bicudo Bárbara. In: SIMMEL, Georg. Cultura filosófica. São Paulo: Editora 34, 2020. p. 257-288.

SIMMEL, Georg. As grandes cidades e a vida do espírito. Tradução de Leopoldo Waizbort. Mana, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 577-591, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3yHsqpL. Acesso em: 11 out. 2022.

SCHUMANN, Claudia. Aversive education: Emersonian variations on ‘Bildung’. Educational Philosophy and Theory, London, v. 51, n. 5, p. 488-497, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3Ct8aZS. Acesso em: 05 ago. 2022.

TAYLOR, Andrew. Henry James and the father question. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

Downloads

Publicado

2023-11-05

Como Citar

LARANGEIRA DA SILVA MELLO, L. Passado futuro: o cronótopo da formação e sua crise em Os embaixadores, de Henry James: El cronotopo de formación y su crisis en Los embajadores, de Henry James. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1–27, 2023. DOI: 10.15848/hh.v16i41.2050. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/2050. Acesso em: 18 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Temporalização do tempo e regimes historiográficos