O labirinto ou a lógica do tempo sem sentido em Alexandre Koyré

Autores

  • Marlon Salomon Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v16i41.2105

Palavras-chave:

Temporalidade histórica, Filosofia da história, Sentido histórico

Resumo

A França do entreguerras foi frequentemente caracterizada por seus contemporâneos como um período de profundas crises. Para os historiadores que viveram nessa época, havia uma “crise da história”. Essa crise era identificada ao desmoronamento das noções de determinismo e de sentido histórico. O futuro e, com ele, a temporalidade histórica tornavam-se incertos, imprevisíveis. A posição de A. Koyré, no contexto dessa problematização, merece destaque na medida em que ele buscava inscrever em uma nova historiografia das ciências esse tempo histórico indeterminado e sem direção prévia, mas, concomitantemente, extrair dele sua nova filosofia. De um lado, ele assimilava o tempo histórico à imagem do labirinto, uma figura importante que circulou intensamente nesse período por diversos domínios, transitando entre as vanguardas artística e epistemológica. De outro, procurava definir, nos termos de uma filosofia da história, a natureza dessa nova temporalidade histórica. Daí seu interesse pela filosofia da história, pelo existencialismo e por autores como Hegel e Heidegger. Pretendo mostrar como há em Koyré, nesse período, uma tentativa de compreender filosoficamente a lógica do tempo aberto e sem sentido e como essa compreensão se encarna em seus trabalhos de história do pensamento.

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Publicado

2023-12-25

Como Citar

SALOMON, M. O labirinto ou a lógica do tempo sem sentido em Alexandre Koyré. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1–26, 2023. DOI: 10.15848/hh.v16i41.2105. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/2105. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Temporalização do tempo e regimes historiográficos