Eliminando manchas brancas

um desmonte da cartografia indigenista de Curt Nimuendajú

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i37.1686

Palavras-chave:

Cartografia, Etnografia, Retórica

Resumo

O objetivo deste artigo é refletir sobre a construção do “Mapa Etno-histórico” de Curt Nimuendajú, obra que buscou cartografar de modo exaustivo os grupos nativos da América do Sul. Esse estudo foi uma das representações mais utilizadas por pesquisadores desde sua criação, em 1944. Partiremos da ideia de que os mapas são constructos retóricos que devem ser lidos como textos, discutindo limites e possibilidades de um vocabulário visual adequado para entender as opções teóricas e metodológicas explícitas e implícitas na elaboração cartográfica. Vamos nos valer da reconstrução cartográfica digital do “Mapa Etno-histórico” para fazer emergir as diferenças entre o projeto enunciado pelo autor e o que foi dito em termos cartográficos. Iniciaremos com uma descrição da obra e de suas opções mais evidentes, demonstrando uma relativa seletividade nas escolhas realizadas por Nimuendajú. Na parte final, abandonaremos os procedimentos técnicos para interpretar os resultados em um diálogo com a nova cartografia crítica e com a etnogeografia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lana Moraes, Universidade de Brasília

Lana Sato de Moraes é Mestre em História pela Universidade de Brasília (2018), mesma instituição onde cursou graduação em bacharelado e em licenciatura em História (2016). Desenvolve pesquisas na área de História do Brasil Colonial, focando principalmente em temáticas relacionadas a gênero e economia e geoprocessamento.

Carlos Carvalho, Universidade de Brasília

Carlos Antônio Pereira de Carvalho é bacharel, Licenciado e Mestre em História pela Universidade de Brasília - UnB. Atua em pesquisas no campo de História do Brasil Colônia, com foco em História Social a partir de elementos da História Digital. Atualmente trabalha e possui interesse em pesquisas sobre a História dos escravizados na América Portuguesa, assim como, o uso do Sistema de Informações Geográficas.

Manoel Rendeiro, University of California

Manoel Domingos Farias Rendeiro Neto é Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de Brasília (2013 - 2017). Doutorando em História pela Universidade da Califórnia, Davis (2018 - ). Sua pesquisa privilegia a História da América Latina, com foco na História da Amazônia, nas dinâmicas do colonialismo, nas configurações das fronteiras e nas nações indígenas nos séculos XVIII e XIX.

Tiago Gil, Universidade de Brasília

Tiago Gil possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000), graduação em Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002), mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003) e doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009). Atualmente é professor Associado da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Colônia, atuando principalmente nos seguintes temas: economia colonial, história digital, contrabando, fronteira, história espacial, geoprocessamento em história e bancos de dados. 

Referências

BARBOSA, Rodolpho Pinto. A cartografia do mapa Etno-histórico de Curt Nimuendajú. In: IBGE/Fundação Pró-memória. Mapa Etno-histórico de Curt Nimuendajú. Rio de Janeiro: IBGE, 1981. p. 23–27.

BARCELOS, Artur Henrique Franco. A cartografia indígena no Rio da Prata colonial. In: ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA. O BRASIL NO SUL: CRUZANDO FRONTEIRAS ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL, X, 2010, Santa Maria. Anais [...]. Santa Maria: UFSM/UNIFRA, 2010.

CARDOSO, Thiago Mota. Malhas cartográficas: técnicas, conhecimento e cosmopolítica do ato de mapear territórios indígenas. In: REUNIÃO DE ANTROPOLOGIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Anais [...]. Campinas: UNICAMP, 2014, p. 1-28.

CHAPIN, Mac; LAMB, Zachary; THRELKELD, Bill. Mapping indigenous lands. Annual Review of Anthropology, Palo Alto, v. 34, p. 619–638, 2005.

DIENER, P. Martius e as línguas indígenas do Brasil. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, Brasília, v. 6, n. 2, p. 353-376, ago. 2014.

EMMERICH, Charlotte; LEITE, Yonne. A ortografia dos nomes tribais no mapa etnohistórico de Curt Nimuendajú. In: IBGE/Fundação Pró-memória. Mapa Etno-histórico de Curt Nimuendajú. Rio de Janeiro: IBGE, 1981. p. 29-35.

FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. O índio como metáfora: política, modernismo e historiografia na Amazônia nas primeiras décadas do século XX. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 41, p. 315-336, ago./dez. 2010.

FRITZ, Samuel. Mapa Geographica del Río Marañón o Amazonas. Biblioteca Nacional. ARC.030,02,017 - Cartografia, 1691.

GRUZINSKI, Serge. La colonización de lo imaginario: Sociedades indígenas y occidentalización en el México Español S.XVI-XVIII. Fondo de Cultura Económica, México D.F., 1991

HARLEY, John Brian. Deconstructing the map. Cartographica: The International Journal for Geographic Information and Geovisualization, Toronto, v. 26, n. 2, p. 1–20, 1989.

HARLEY, John Brian. Rereading the maps of the Columbian encounter. Annals of the Association of American Geographers, Washington, v. 82, n. 3, p. 522-542, 1992.

HARLEY, John Brian. The new nature of maps: essays in the history of cartography. Baltimore: JHU Press, 2002.

HERLIHY, Peter H, KNAPP, Gregory. Maps of, by, and for the peoples of Latin America. Human Organization, Oklahoma City, v. 62, n. 4, p. 303–314, 2003.

INGOLD, Tim. Lines: a brief history. Routledge, 2007.

Krause, Fritz. In den wildnissen Brasiliens: bericht und ergebnisse der Leipziger Araguary-expedition, 1908. Leipzig: R. Voigtländer, 1911.

LARAIA, Roque. A morte e as mortes de Curt Nimuendajú. Série Antropológica, Brasília, n. 64, p. 01-09, 1988.

LOWIE, Robert Harry. Eastern Brazil: an introduction. Handbook of South American Indians: The Marginal tribes, Washington, v. 143, p. 381, 1946.

MACKENZIE, Kierin; SIABATO, Willington; REITSMA, Femke; CLARAMUNT, Christophe. Spatio-temporal Visualisation and Data Exploration of Traditional Ecological Knowledge/Indigenous Knowledge. Conservation & Society, New Delhi v. 15, n. 1, p. 41-58, 2017.

MAPP, Paul W. The Elusive West and the Contest for Empire, 1713 – 1763. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2011.

MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. Beiträge zur Ethnographie und Sprachenkunde Amerika’s zumal Brasiliens: Wörtersammlung brasilianischer Sprachen. vol. 2. F. Fleischer, 1867.

MUNDY, Barbara E. The Mapping of New Spain: Indigenous Cartography and the Maps of the Relacíones Geográfícas. Chicago: The University of Chicago Press, 1996.

NIMUENDAJÚ, Curt & R. F. Mansur Guérios. Cartas etnolingüísticas. Revista do Museu Paulista, São Paulo, n. 2, p. 207-241, 1948.

NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa Etno-histórico. Rio de Janeiro: IBGE, 1981.

NORONHA, José Monteiro de. Roteiro da viagem da cidade do Pará até as últimas colônias do sertão da província (1768), Vol. 1, EdUSP, 2006.

PERKINS, Chris. Cartography: Mapping Theory. Progress in Human Geography, London, v. 27, n. 3, p. 341–351, 2003.

POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. São Paulo: EDUSC/ANPOCS, 2003.

RAMALHO, João Pedro Galvão; RENDEIRO NETO, Manoel. Quando o roteiro é mais que o caminho: espacializando a narrativa de viagem do Vigário Noronha. In: VILA, Carlos Valencia; GIL, Tiago Luís (org.). O retorno dos mapas: sistemas de informação geográfica em história. Porto Alegre: Ladeira Livros, 2016. p. 165–198

RUNDSTROM, Robert A. GIS, indigenous peoples, and epistemological diversity. Cartography and geographic information systems, Bethesda v. 22, n. 1, p. 45–57, 1995.

SAFIER, Neil. Measuring the New World: Enlightenment Science and South America. Chicago: University of Chicago Press, 2008.

SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descriptivo do Brazil em 1587. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1851.

SOUTHEY, Robert. History of Brazil. Longman, 1819. 3 v.

SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Tradução de Lúcia Furquim Lahmeyer; Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1981. v. 3.

TAPIA, Roberto Chauca. Sobre letrados chinos y bogas amazónicas: La participación indígena en la producción del conocimiento cartográfico y geográfico jesuita en Asia y América. Revista de Historia y Geografía, Santiago, n. 34, p. 19–41, 2016.

VON IHERING, Hermann. A questão dos índios no Brasil. Revista do Museu Paulista, São Paulo, v. 8, p. 112-140, 1911.

WELPER, Elena. Curt Unckel Nimuendajú: um capítulo alemão na tradição etnográfica brasileira. 2002. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Museu Nacional, Rio de Janeiro, 2002.

WELPER, Elena. Da vida heroica ao diário erótico: sobre as mortes de Curt Nimuendajú. Mana, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p.551-586, maio/ago. 2016.

Publicado

2022-02-18

Como Citar

MORAES, L.; CARVALHO, C.; RENDEIRO, M.; GIL, T. Eliminando manchas brancas: um desmonte da cartografia indigenista de Curt Nimuendajú. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 37, p. 17–61; 62, 2022. DOI: 10.15848/hh.v14i37.1686. Disponível em: https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/1686. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigo original