Desafiando conceitos rígidos
a eugenia latina, a transnacionalidade e a crítica ao excepcionalismo
DOI:
https://doi.org/10.15848/hh.v17.2068Palavras-chave:
Historiografia, História da Ciência, BrasilResumo
O livro A hora da eugenia, da historiadora Nancy Stepan, constitui uma importante referência sobre a história da eugenia no Brasil, não só por seu aspecto pioneiro, mas pelas chaves interpretativas que apresenta, como o conceito de “eugenia latina”. O intuito deste artigo é avançar a discussão proposta por Stepan, analisando-a de forma crítica e trazendo novos elementos apresentados não só pela historiografia, mas também por algumas fontes que demonstram que os conceitos e a abordagem proposta pela autora precisam ser superados, uma vez que focam excessivamente a construção de excepcionalidades e de antagonismos, encobrindo os aspectos comuns entre países não latinos e criando representações estereotipadas sobre a região. Acreditamos que, por seu caráter limitado e restritivo, conceitos como o de “eugenia latina” devem ser desafiados a partir da adoção de uma abordagem transnacional e comparativa, de forma que busquemos conexões e aspectos comuns e fujamos da armadilha dos “excepcionalismos” como chave interpretativa de análise.
Downloads
Referências
ADAMS, M. B. The Wellborn Science: Eugenics in Germany, France, Brazil and Russia. New York: Oxford University Press, 1990.
BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010.
BOARINI, M. L. Higiene e Raça como Projetos. Maringá: EDUEM, 2003.
BUCCUR, M. Eugenics in Eastern Europe, 1870-1945, In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 398-412.
CASSATA, F. Building the New Man: Eugenics, Racial Science and Genetics in the Twentieth Century Italy. Budapest: Central European University Press, 2011.
CHUNG, Y. J. Struggle for National Survival: Chinese Eugenics in a Transnational Context, 1896-1945. Abingdon: Taylor & Francis, 2002.
CHUNG, Y. J. Eugenics in China and Hong Kong: Nationalism and Colonialism, 1890s-1940s. In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 258-274.
DIWAN, P. Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007.
ERASO, Y. Biotypology, Endocrinology, and Sterilization - The Practice of Eugenics in the Treatment of Argentinian Women during the 1930s. Bull Hist Med., n. 81, v.4, p.793-822, 2007.
FOGARTY, R.; OSBORNE, M. Eugenics in France and the Colonies, In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 332-346.
GALTON, F. Eugenics: Its definition, scope, and aims. The American Journal of Sociology, v. 10, n. 1, p. 1-25, jul. 1904.
GARTON, S. Eugenics in Australia and New Zealand: Laboratories of Racial Science. In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010. p. 243-257.
GERALDO, E. O “perigo alienígena”: política imigratória e pensamento racial no governo Vargas (1930-1945). Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas, 2007.
GERALDO, E. A “lei de cotas” de 1934: controle de estrangeiros no Brasil. Cadernos da AEL, Campinas, v. 15, n. 27, p. 173-209, 2009.
GOULD, S. Jay. The Mismeasure of the Man. Nova Iorque: W.W. Norton & Company, 1974.
HABIB, P. A. B. B. “Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou”: raça, eugenia e nação. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Campinas, Campinas, 2003.
HOCHMAN, G.; TRINDADE, N.; MAIO, M. “The Path of Eugenics in Brazil: Dilemmas of Miscigenation”. In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 493-510.
HODSON, C. B. S. Eugenics in Norway. The Eugenics Review, n. 27-28, p. 41-44, 1935.
KEHL, R. Conferência “Eugenia”. 13 de abril de 1917. Associação Cristã de Moços de São Paulo. Jornal do Comércio. 19 de abril de 1917. Eugenia, São Paulo, 1919.
KEVLES, D. In the Name of Eugenics: Genetics and the uses of Human Heredity. Cambridge: Harvard University Press, 1999 [1985].
KLINE, W. Building a better race: gender, sexuality, and eugenics from the turn of the century to the baby boom. Berkeley: University of California Press, 2001.
KOCH, L. Eugenic Sterilisation in Scandinavia. The European Legacy: Toward New Paradigms, n. 11, v. 3, p. 299-309, 2006.
KOIFMAN, F. Imigrante Ideal: o Ministério da Justiça e a entrada de estrangeiros no Brasil (1941-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
LEVINE, P. Eugenics: A very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2017.
LOMBARDO, P. A. A Child’s Right to Be Well Born – Venereal Disease and the Eugenic Marriage Laws, 1913-1935. Perspectives in Biology and Medicine, n. 2, v. 60, p. 211- 232, Spring, 2017.
LOMBARDO, P. Eugenics and Public Health – Historical Connections and Ethical Implications. In: MASTROIANNI, A.; KAHN, J. P.; KASS, N. E. (Eds.). The Oxford Handbook of Public Health Ethics. Oxford: The Oxford University Press, 2019.
LOMBARDO, P. We Who Champion the Unborn: Racial Poisons, Eugenics, and the Campaign for Prohibition. The Journal of Law, Medicine & Ethics, Cambridge: Oxford University Press, n. 50, p. 124-138, 2022.
MCGERR, M. The Price of the ‘New Transnational History’. The American Historical Review, n. 96, v. 4, p. 1056-67, 1991.
MIRANDA, M.; VALLEJO, G. (org.). Darwinismo social y eugenesia en el mundo latino. Buenos Aires: Siglo XXI de Argentina Editores, 2005.
OTSUSUBO, S.; BARTHOLOMEW, J. R. Eugenics in Japan – Some Ironies of Modernity, 1883-1945. Science in Context, n. 11, v. 3-4, p. 545-565, 1998.
PAUL, D. B. Reflections on the Historiography of American Eugenics – Trends, Fractures, Tensions. Journal of the History of Biology, New York: Springer, v. 49, n. 4, p. 641-658, 2016.
PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a História Comparada da América Latina. Revista da História da USP. n.153, p.11-34, 2005.
PURDY, S. A história comparada e o desafio da transnacionalidade. Revista de História Comparada, n. 6, v. 1, p. 64-84, 2012.
QUINE, M.S. The First-Wave Eugenic Revolution in Sourthern Europe: Science sans Frontiers, In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 377-397.
REIS, J. R. F. Higiene Mental e eugenia: o projeto de “regeneração nacional” da Liga Brasileira de Higiene Mental (1920-1930). Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas, 1994.
RODWELL, G. Dr Caleb Williams Saleeby: the complete eugenicist. History Of Education, v. 26, n. 1, p. 23-40, 1997.
SALEEBY, C. W. Parenthood and Race Culture: an outline of eugenics. Londres: Cassell and Company, 1909.
SANTOS, R. A. Pau que nasce torto, nunca se endireita! E quem é bom, já nasce feito? Esterilização, Saneamento e Educação: uma leitura do Eugenismo em Renato Kehl (1917-37). Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008.
SCHAFFER, G. “Like a Baby with a Box of Matches”: British Scientists and the Concept of ‘Race’ in the Inter-War Period”. The British Journal for the History of Science, v. 38, n. 3, p. 307-24, 2005.
SCHOEN, J. Choice and Coercion: birth control, sterilization, and abortion in public health and welfare. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2005.
SCHELL, P. Eugenics Policy and Practice in Cuba, Puerto Rico, and Mexico, In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 477-492.
SIHN, K.-H. Eugenics discourse and racial improvement in Republican China (1911-1949). Korean Journal of Medical History, n. 19, p. 459-486, dez. 2010.
STEPAN, N. A Hora da Eugenia. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.
STERN, A. M. Eugenic Nation: Faults & Frontiers of Better Breeding in Modern America. Berkeley: University of California Press, 2005.
TURDA, M. Modernism and Eugenics. Londres: Plagrave Mcmillan, 2010.
TURDA, M.; GILLETE, A. Latin Eugenics in Comparative Perspective. London; New York: Bloomsbury Academic, 2014.
VIMIEIRO-GOMES, A.C.; WEGNER, R.; SOUZA, V.S. Carta dos Editores Convidados. Revista Manguinhos. v. 23. Suplemento. Dez. 2016, p.7-9.
WALSH, S. The executioner’s shadow: Coerced sterilization and the creation of “Latin” eugenics in Chile. History of Science. Special Issue: Race Science in the Latin World, v. 60, n. 1, p. 18-40, 2022.
WEINDLING, P. German Eugenics and the Wider World: Beyond the Racial State. In: BASHFORD, A.; LEVINE, P. The Oxford Handbook of the History of Eugenics. Nova York: Oxford University Press, 2010, p. 315-331.
WEINDLING, P. Conceptualizing eugenics and racial hygiene as public health theory and practice. In: KANANEN, J.;
BERGENHEIM, S.; WESSEL, M. (Eds). Conceptualizing Public Health: Historical and Contemporary Struggles over Key Concepts. Londres: Routledge, 2018.
WILSON, P. K. Bad Habits and Bad Genes: Early 20th-Century Eugenic Attempts to Eliminate Syphilis and Associated Defects from the United States. Canadian Bulletin of Medical History, v. 20, n. 1, p. 11-41, 2003.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Geandra Munareto, Pietra Diwan
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
O envio de manuscrito para a revista garante aos seus autores a manutenção dos direitos autorais sobre o mesmo e autoria que a revista realize a primeira publicação do texto. Os dados, conceitos e opiniões apresentados nos trabalhos, bem como a exatidão das referências documentais e bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores.
Este obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
